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Foto do escritorRamille Roque

Relatos dos membros do Remanescente do Empata Viagem

Manoel Freire da Silva, 85 anos - Um dos mais idosos da comunidade

Entrevista realizada: 19.12. 2019


Meu avô falava, negócio de escravo. Quer dizer que eles tratava os negros, era escravo. Então eu fui pegando aquele conhecimento. Mas sempre eles diziam, meu fio, vai vim um tempo que os negros que hoje trata como escravo, vai ter mais valor qual eles não dão hoje. Meu bisavô foi escravo, ele morreu ali no Quitungo, num lugar que chama, ora, esqueci o nome, sei que é ali encostado ao Quitungo. Ele foi escravo, chamava Efonso, ele foi escravo. Quem era que queria saber, depois que gritou a liberdade que os negro se forrou, quem era que queria de dizer assim: a fulano, você foi escravo, ninguém queria saber, quando gritou a liberdade e o negro se forrou. Dalí em diante, o negro pegou a ter valor, que hoje ninguém vê, não tem branco, não tem negro, tudo é um. Mas de primeiro tinha aquelas escolhas. Uns milhorzinhos, outros quer ser mais mior, mas tudo é um. Tudo é um.

Minhas mãe, nós ia, e eu tava, um pai casou com outra, ela ficou me criou. Nós ia pra uma festa e eu já rapaz, a festa muita menina e eu tava de dentro. Dez, onze horas vá dormi, já arranjei um canto pra você dormir, eu chegava lá naquele canto, me deitava, ela onde ia levava o cobertor. Botava, os pessoa lá dançando e eu queto, queto, queto, até quando o sono me pegava. Umbora, umbora... mas de desse dez hora, doze hora e eu ficava (gesto dançando) nada, nada. Hoje em dia filho quer saber mais de conselho de pai e de mãe.

E eu tava aqui e a senhora passasse e perguntasse alguma coisa, eu... não sei. Quem sabe é minha mãe. Quando a senhora incubria lá, eu: ê minha mãe, quem é aquela? Aquela é assim, assim, assim. Quanto eu tô falando alguma coisa, não saber o nome, diga assim: a bença. Eu não sabia (risos).

Gosto, gosto, que eu sou negro! Eu tenho orgulho, eu tenho orgulho! Graças a Deus! Outra coisa eu digo assim: Eu dou graças a Deus, ter enviado minha mãe saber me criar. Porque se ela não tivesse essa criação comigo, eu não tivesse mais vivo.

E eu acho que mesmo que eu já esteje nessa idade, mas tem meus filhos, tem meus netos, se eu ainda tiver vivo, mas eu fico satisfeito, fico satisfeito.

Só tem uma coisa que eu fico triste as vez pensando... uma pessoa mata um parente do senhor, ou meu ou do senhor a justiça, a polícia, vai panhar, prende hoje, quando é amanhã...

Vou dizer uma coisa, nós até hoje, nós explica, mas o povo de hoje, os filhos de hoje não quer escutar eu digo, o que o senhor mais velho diz, ele só quer... Eu sempre falo pro meu pessoa, pros meus netos, sempre eu falo,bom, só puxa pra aquilo que é bom, mas os pais de hoje, não importa.

Sobre viver de emprego, sabe porque, tem muitos que tem roça deixa se perder, se possível, não quer plantar, só quer viver de emprego. O pessoal tem um dizer: um servo só não pode servir a dois senhor . Só quer viver de emprego e esquece o que o senhor tem. Às vezes tem uma roça. Que nem eu digo pra muitos aí, eu digo aí e onde for possível. Aqui no Empata Viagem aquele povo todo que mora ali tem sua roçazinha, tinha seus lugarzinho fora, mas só planta ali, tá vendo!

Pai, avó, criou nós, criou seu pai, criou tudo, não foi em emprego, foi na roça, na roça, roçando, derrubando, queimando, plantando mandioca. Hoje em dia, o senhor daqui não ver sair uma farinha. Minha mulher, eu trabalhei, um ano, dois anos na Cepel, toda sexta-feira ela mandava os menino ir levar de tarde, oito, dez latas de farinha pra eu vender. Os trabaiadô, e bejú. Bejú, ia assim ô, as bacias de bejú., pra vender.

 

Irênio Monteiro do Nascimento, 82 anos – Um dos mais idosos da comunidade

Entrevista realizada: 19.12.2020


De quilombola é porque o meu pai, a bisavó do meu pai foi escrava. Aliás, a bisavó não, a avó do meu pai foi escrava. Você ver falar aqui nessa estrada, a velha Honória, aí tinha até uma ponte aí embaixo no rio aí, que chamava ponte da velha Honória. Então essa velha Honória que eu não conheci mais, foi avó de meu pai. E ela foi escrava. Ela foi escrava. Que aqui em atravessa pra negão dessa estrada aqui de Minério, aí tinha uma presa muito grande, uma presa num rio muito grande e naquele tempo da escravidão o senhor dos escravos procurava riacho pra fazer presa pra escravo. Eles procurava muita água que era pras casa de farinha relar de noite e dia e quando tocava com mais força na roda, parava, né! Mas eles queria saber que era de noite e dia. Então, como é que se diz, meu pai, essa velha Honória foi escrava nesse lugar aí onde tem a ponte, pra cá, não, pra cá é um pouquinho de Negão. Ai coisa, vamo lutando, a velha Honória morreu, ficou os filhos e evamo, evamos, e evamo, e inclusive meu pai era neto e aí, Empata Viagem foi por que naquele tempo, que a gente lembrar, que vamos dizer que foi quando descobriu o Brasil, começaram abrir aqui, Ibiaçú, Tabuleiro, e coisa e tal e é vai, essas estradas aqui, o outro lado tem uns encruzo que vai sair em Tabuleiro e coisa e tal e aí apareceu um homem e botou uma budega, e aí pronto, naquela época o movimento daqui era tropa. Tropa descia carregada e subia carregada. A mercadoria vinha de Salvador por barco e ali em Tremembé tinha o cais que era lugar de embarque e desembarque. O carro, a mercadoria vinha até, como é que chama, dois irmãos, que é Ubatã hoje, a mercadoria vinha pro barco e daí desse Tremembé a mercadoria subia em tropa de animal. A tropa descia carregada e subia carregada. A mercadoria pra Salvador. Então pra essa budega, chegou, ia subindo um cavaiadeiro com tropa carregada aí rodou a tropa e foi tomar uma, aí daqui a pouco, vai um descendo, um tropeiro. Tropa carregada aí, todo mundo conhecido, tropeiro, toma uma rapaz, toma uma aí, rodou a tropa e foi tomar uma com esse que já tava no ponto, aí toma uma, toma duas, aí o que ia subindo viajou, e o que ia descendo disse: é rapaz, eu não vou descer, não vou mais hoje pra Tremembé, não, eu vou descarregar a tropa que tinha racharia e vou dormir aqui e amanhã eu vou em Tremembé, descarrego a tropa, carrego e volto pra aqui. Aí soltou um cachacinha por lá e disse: Isso aqui é um empata viagem. Ta vendo? E aí, foi passando, passando, e eu nasci também na região Empata Viagem, aí depois apareceu gente querendo mudar o nome. Rapaz, Empata Viagem, tira esse nome. Eu digo não. Enquanto eu existir o nome é Empata Viagem mesmo. E vou contar o caso porque é Empata Viagem. Não foi por causa de outra coisa ruim não, foi por causa disso., de tropeiro carregando tropa e um desce outro outro sobre coisa e tal e aí criou o nome Empata Viagem.

E quilombos é como eu lhe disse, minha bisavó, minha vó, não, minha bisavó foi escrava aqui embaixo, tem a presa, uma presa enorme que fizeram e minha avó foi escrava nesse lugar. Quando terminou a escravidão, ela ficou com os filhos na região por onde o senhor trabalhava, aí ficou o nome velha Honória, velha Honória, até hoje tem o lugar aí. Ponte da velha Honória, que tinha uma ponte, ponte mesmo de madeira que o rio era fundo. E os escravos foi por isso, minha avó foi escrava.

Muitas coisas que quando eu nasci, me criei aqui, meu pai me tirou daqui três anos pra um grande povoado daqui, você conhece? Quitungo. Conhece? Pois eu passei ali três anos que meu pai me botou pra lá pra eu aprender a assinar o nome. Três anos, aí, quando eu via o povo da roça naquele tempo, chorava e acabava caderno caindo lágrima em cima, tomava bolo, palmatória, e é vai, e é vai, e eu dizia: Se um dia eu me chamar Irênio, dentro da minha propriedade eu vou criar uma escola. Pra não acontecer com meus filhos e outros e outro o que está acontecendo comigo, os pais tirar pra fora pra aprender a assinar o nome. E isso, meu pai me tirou mesmo pra fora, eu aprendi a assinar o nome e quando eu vim, ele me tirou com 09 (nove) anos eu vim com 12 (doze). Passei uns três nãos por lá. Quando eu cheguei aqui, com uns 15 (quinze) anos eu peguei empenar. Empenar, saindo da companhia do meu pai e foi o ponto que eu cheguei a trazer na política de Vitório Magalhães, esse colégio aí, fui política pra Vitório, só assim na Escola. Mas aí não tinha estrada boa. Tinha uma estrada ali por Pedro Celestino era um coisa muito perigoso. Às vezes a vasculhante vinha com bloco e areia e largava aí em um lugar que tinha uma geniíba que era um lugar ruim mesmo e a vasculhante não descia, largava lá e eu carregava em lombo do burro pra aqui. Bloco, areia e com toda dificuldade até que fiz esse ginásio aí, Vitório Magalhães.

E eu sempre fui uma pessoa muito interesseiro pela região, um dia eu to aqui chegou Gracinha, bom querendo criar esse outro ginásio. Aí disse que remexeu o Município todo de Quitungo, Tremembé, Paulo Rico e não conseguiu um terreno pra fazer um ginásio desse. Por que era doado. Ela tinha que fazer esse ginásio como se o povo tivesse doado. Se o povo tivesse doado, era faziria mais de um, não tinha feito só um mas ela contou o caso dela. Eu disse pronto dona Gracinha, eu sou uma pessoa que quero ver a região crescer. Até doado, eu to topando terreno aí de 20 mil, bom. E Quitungo e Tremembé a senhora não conseguiu terreno não? E de quem é aqueles terrenos, não da prefeitura não? Ela disse: Nada, aqueles terreno é de fulano, é de Zeca do Vinho... Mas aqui pode continuar com os papel, pode continuar com seus projetos aí que o terreno tá liberado pra senhora fazer o ginásio. Aí, fez aí o ginásio, que graças a Deus eu sempre me interessei pela minha região.

E outra coisa de quando eu nasci, hoje de qualquer maneira só não tá rico, rico no modo de dizer, de passar bem, quem não quer. Preguiçoso, porque naquela época de escola, meu pai me botou na escola e eu cheguei aqui com 13 anos, pra começar a trabalhar, pra mim, pra ir pra roça de manhã trabalhar o dia todo existia, sabe o que era? Uma tal de jacuba, você sabe o que é jabuba? (risos). Tinha pimenta de preferência, né? Pimenta de cumarim, sargada, ou pimenta de cheiro, fazia o molho, pegava água, nem precisava ser morna, fria, despejava dentro da porcelana, despejava aquele molho, aquela pimenta ali e jogava a farinha e ó, cumia. Cansei de fazer isso pra ir pra roça.

Que a filha do reis de princesa, aí, o rei de Portugal adoeceu e foi desenganado pelo cientista que a saúde dele estava na África. Qual foi na África? Se ajuntar com uma nega. Agora você vê como é as coisas de Deus, se Deus existe, existe mesmo com poder e bundância. O Reis chegou no palácio em Portugal conversou com a rainha. Contou a vida dele, ela disse: o que é que nós quer? É viver. Vá. Aí ele foi, chegou lá se encostou, porque o remédio dele era se encostar com uma nega. Aí hoje eu digo a você, nego é tão bom que serviu de remédio pro branco. Passou 5 (cinco) anos lá, curou a doença com a nega na África. Foi onde veio a princesa Isabel, quando ele veio pra Portugal, deixou a negona da Costa prenha. Aí nasceu, ele deu toda condições de viver, criou essa menina lá por Portugal, quando ela tava aos 16 (dezesseis) anos ela veio a Portugal. Aí, chegou a filha do rei! Chegou a filha do rei! O que é a filha do reis? É rainha! O que é a filha do reis? É rainha! Aí, 3 (três) dias de festa. Aqui no Brasil tá rolando escravidão. Aqui no Brasil tá rolando escravidão. Ela permaneceu, passou lá os dias dela e coisa. Aqui no Brasil tá rolando escravidão e ela sabendo. Aí ela perguntou ao pai: Ê pai! Eu quero ir conhecer o Brasil. O pai deu permissão a ela. Chegou aqui no Brasil, ela viu o que os negros estava sofrendo, a princesa. Aí ela voltou a Portugal e disse: É pai, eu vi uma coisa lá no Brasil que não gostei. Ele disse: que foi filha? Os nego. Os nego lá trabalhando e tem nego trabalhando inté amarrado. Bom. Aí ele disse. E é pra acabar com aquilo. Eu acho, acho não, eu ali tenho até parente. Por que da onde eu vim papai, pai dela, de onde eu vim papai? Ele disse: Da África. Ela disse: então, aquele povo lá não são da África? Eu não me identifiquei não, mas ali é parente. Eu ainda tenho parente ali e é pra acabar com a escravidão. Aí ele pulou lá. Ah minha filha, pra acabar com a escravidão tem que morrer muita gente, porque quer é que quer que acabe com a escravidão? Bom. Homem, senhor, como ele chamava aquele dos escravos, era o senhor, com 40 (quarenta) a 50 (cinquenta) homem trabalhando só a troco do pirão e mal vestido, quem é que quer? Ela disse: não importa. Tem que acabar. E aí ele disse: mas pra acabar com a escravidão tem que morrer muita gente. Ela disse: não importa. E ai ele foi revisando tudo, e é coisa e é vai e aí, quando anunciou a guerra os cabeçudos deu a testa pra não acabar a escravidão, aí é vai , é vai. Ele enfrentou, enfrentou e do lado dos que queriam que não acabasse, enfraqueceu, aí, levantou no dia 13 de Maio, você sabe o: Preto não é mais lacaio, preto não é mais senhor, o preto pode ser doutor, deputado e senador, não há mais preconceito de cor. Foi através da Princesa Isabel, Princesa Isabel que era filha de reis com Africano da África. Ai, aí, é história!

 

Miguelita Ferreira da Silva, 65 anos – Benzedeira/rezadeira

Entrevista realizada dia: 20.11.2019

Eu casei com 12 anos, hoje em dia eu to com 65 ano, sou mãe de 12 filhos, morre, tenho 9, mas sou mãe de 12 filho. Ganhei tudo em casa. Os remédios que minha mãe fazia que sabia do menino com três mês, que sentia, minha mãe batia um purgante com toda folha de osta, eu achava ruim, aí eu bebia. Aí meu marido comprava (quando eu morava) gota salvadora, aqueles remédios, aí eu bebia pro menino desenvolver. Aí quando tava com menino de novo, aí mãe batia outro purgante, pra limpar o intestino. Pra Limpar o parto, limpar tudo. E o menino no dia que nascia, no outro dia ela botava dentro da bacia de água pra não empatar dar banho, e dava uma colherzinha de rico, o menino, pra limpar o intestino do menino também, né. Aí ficava, fazia tudo, ela não queria que eu descesse pro chão, era três dias em cima da cama, ali deitada. Era tudo em cima da cama. [...]

O remédio, levanta espinhela eu aprendi com minha mãe a espinhela e dente caído eu aprendi. E ela também fazia remédio e tudo. Aí depois Deus me deu o dom mesmo e eu faço remédio. Eu vou e pego as folhas do mato e pego, eu sei. A osta, arruda, puejo, mantruz, coentro largo, tudo eu faço lambedor. Até pra Brasília, quando elas vieram aqui a primeira vez elas levou lambedor de coentro largo. Coentro largo também é bom pra cólica.

Alecrim do sertão, alecrim verdadeiro, tudo eu tenho aqui, eu tenho muita osta aqui. Eu tô um pouco ruim da vista mas eu tenho muita osta aqui. A favaca grossa é muito bom pra inflamação pra útero, pra gripe, pra um bocado de coisa.

A folha do kioio, e a folha da Maria preta, aí já é a folha do mato, né. Aí eu fiz o xarope e o banho, também quando eu levei o xarope dava a colherzinha que caía na camisola a tinta.

Mal-me-quer, vassoura fina, murfina, a osta, a folha da costa [...] tudo eu tenho. Eu pego, Maria catingosa, ninguém sabe, eu sei, né. [...] Cainana, cipó de sabão, folha de maracujá sul, é bom pra coceira [...] andorinha, [...].

Um dia minha cunhada chegou com aquele menino, andou por tudo que é canto, médico e nada. Chegou com aquele menino, o menino já pra morrer [...], eu olhei assim pra aquele menino, e rezei. Bota o menino assim aqui no colo, estica assim o dedo, estica, estica o do pé, estica assim as pernas, acabá coloca o menino de buço e vai tocando o pé do menino dedo grande na ponta da popozinha da bunda, acabá pega o menino suspendendo assim e levando, aí na porta aí, e levantando, se o menino for muito pesado, outra pessoa segura, levantando, levantando e caba reza assim: São Cosme, São Damião, um é médico outro é curgião, com a vossa cindereção, levanta o banto de sancristão. Trêz vez, aí reza o Pade Nosso e Ave Maria, agora eu sou crente, não rezo mais.

E a espinhela também, eu sei de um bocado de tipo de espinhela, assim: as portas que abre e fecha, pras onda do mar sagrado, básimo, urca, arca aberta, chega teu lugar com o poder de Deus e da Virgem Maria, por as vez a pessoa tá com a espinhela caída, e não é a espinhela, é a arca ou a Urca. Aí a pessoa tem que rezar pra uma daquelas coisa tudo [...]. E sei de uns três modos.

E remédio eu faço, faço remédio pra sinusite, faço pra coluna, faço pra gastrite, sabe o que é capim de aruana, pessoal campim de cacho? Muitas pessoa vem buscar aqui. [...]

Outro [...] tava ruim ali, mas ele é crente, mas o filho dele tava trabalhando aqui, disse: é os fi levando pro banheiro e trazendo [...], é mas hoje em dia esse pessoa tudo crente ninguém faz mais um remédio de folha de nada. Aí disseram: Mas Miguelita aqui é crente, mas faz. Aí ele chegou aqui me dizendo eu fique quieta. Quando foi de tarde eu saí aqui catando, catando por aí, Deus me amostrando. Quando eu to panhando, to pedindo a Deus, me amostra Deus e faz a obra Jesus. Aí eu disse: esse daqui é pra cozinhar pra beber e esse é pro banho, aí, [...] falou que quando deu o banho de noite que chegou, deu o banho. Aí quando foi de noite ele já foi pro banheiro sozinho. Não abusou mais ele. Quando foi no outro dia, ele tava andando. Com uns três dias [...] chegou aqui, irmã, pai já arrumou a sacola e foi embora, nem Deus lhe pague. [...] ficou bom de derrame.

É dom dos negros que a gente ver contar tantas histórias mesmo. E de primeiro, cansei de ouvir minha mãe dizer: que no fim do século, ia ter muito médico e doença que ninguém ia dar jeito. E de primeiro o remédio que eu dava a meus fio, era purgante de ríço, que eu dava. [...]

Vem pedir pra fazer o remédio. As vezes to na associação chega um pra fazer remédio pra mim. Fazer um, dois. Fazer um pra mim e outro pra Ubaitaba. Até pra São Paulo já foi esse remédio.

 

Domingas Maria da Conceição, 60 anos – associada

Entrevista realizada dia: 20.11.2019

Eu me sinto orgulhosa de eu morar aqui no Empata Viagem. E gosto de morar aqui e gosto do Empata Viagem. Eu tenho, eu só considero eu, como sou orgulhosa nisso, de eu ser uma pessoa negra. Passo pros meus neto, passo pros meus bisnetos. Sou associada no quilombola. Eu sendo sócia do Empata Viagem, da associação, trouxe benefício pra mim [...] Eu rente com ela.

Terra e vida, eu não quero sair não. Meu pai não me passava nada. Meu avó é que contava. Que a avó, a mãe dele foi pegada em dente de cachorro, daquele tempo antigo. Foi topada no mato, não sei lá, caboca, né? Ai eu ainda alcancei minha bizavó, doente.

Meu avó dizia, oi minha fia, vai ter o tempo que a gente vai ter muita fartura e não vai topar quem come. E também vai ter, que cacau vai virar pau de pororoca, a gente vai voltar a comer, (a gente não que eu sei que não vou alcançar mais isso), mas seus netos, seus bisnetos, seus tataranetos vai arcançá. E a gente vai comer o inhame da banana da prata, isso meu avó passava pra mim. Mas meu pai não me passava nada. Ele não ligava pra nada disso.

Desenvolveu, aquele Empata Viagem ali, quando eu cheguei, me transformei pra lutar, ir pra lá e tal, só inxistia duas casas. Era o Empata Viagem aqui, onde é o Preto, e lá no véi Tomé. Ali no Empata Viagem mesmo é aqui, saindo aqui, né!? Que eles botaram o nome, naquele tempo que andava o pessoal de tropa de burro, aí fazia a tropa ir no Tabuleiro e passava aqui, que essa estrada aqui era dessa largurinha aqui (gesto de estreita). Aí chegava mais ali tinha uma venda, né, onde Preto mora hoje. Aí chegando lá o que fazia, pegava a tomá uma aí esquecia da viagem. Aí, tirava as cargas dos animá, ali e ficava ali, só tomano uma, tomano uma. Aí no outro dia que ele reagia, ia pra Ibiaçú aqui por dentro da Serra da Barriguinha. Era por ali que eles andava por Ibiaçú, Faisqueira, era por ali que eles andava. Daí pra cá, Viagem veio vindo, vendo vindo, que agora tá uma cidade.

Eu mesmo passo pra meus fio, eu mesmo passei bastante pros meus fios, o que meu avó dizia [...] naquele tempo dele e dos mais velho dele, tinha um cativeiro.

Eu quero, eu quero. Eu acho importante. Eu quero que Deus abra a mente deles pra eles aprender. Por que se a gente passa, eles acha que tá errado, mas lá ele vai topá. Aí ele vai explicar direitinho, é desse modo, é desse outro. Eu acho importante uma coisa maravilhosa. Se a gente não tem. Se a gente topa quem dê, a gente tem que acatar, né!?

 

Manoel Marcolino de Souza, 60 anos – Associado

Entrevista realizada dia: 20.11.2019

Pra mim aqui na comunidade o povo me recebeu bem. Gosta de mim. Em respeito a associação a comunidade desenvolveu muito depois da associação aqui. A comunidade. A gente não sabia o que era associação, aqui. Aí chegou um cidadão de Ipiaú, mora ali do outro lado. Aí em continuação ele chamou a gente: os meninos, umbora criar uma associação, que lá na residência que eu morava a gente criou uma associação e rendeu muito dentro da comunidade. Aí a gente se reuniu e prontamente criou a associação. E graças a Deus tem dado muito bem dentro da comunidade. Teve gente que comprou roça depois disso. Que não tinha, hoje tem, através dela.

Pra gente é uma importância muito boa, porque a gente não tinha esse conhecimento e através da associação e do Banco do Nordeste foi descoberto que a gente era recente de quilombo, que a gente não sabia, não tinha esse conhecimento. Aí daí pra cá a gente teve esse conhecimento que a gente não tinha.

É importante que as outras gerações, as pessoas mais novas saibam dessas informações? E é importante que nas escolas se ensine a história do negro que foi escravizado?

É de direito, passar pra eles saberem o que é. Claro, é de direito. ( )

Eu, minha mãe mesmo era negra, cabelo, duro,duro, duro. Meu pai que era branco e o cabelo era mole, cabelo liso. Mas minha mãe era negra, negra, negra, cabelinho durinho mesmo. ( )

 

Marina santos Souza, 58 anos – Associada

Entrevista realizada dia: 20.11.2019

Nasci e me criei aqui, tenho 58 anos a prendi com meus pais, muitas coisas, como, cozinhar, a nossa comida mesmo, porque são comidas que a gente aprende e deixa saudade porque são coisas boas do passado. Eu mesmo sou franca em lhe dizer, eu não comparo o passado com o presente. O passado nos deixa muita saudade. E eu aprendi muitas coisas com meus pais, é principalmente a educação moral. Existe um provérbio que diz que a educação moral vem de berço, né. E isso nós temos que aprender de berço realmente. Então, nós aprendemos a como respeitar, a respeitar as pessoas idosas, é pessoas que muitas vezes a gente nem conhecia, não sabia nem quem era. Mas a gente aprendia a respeitar, porque era uma educação que nossos pais nos dava e que hoje nós gostaríamos de dar também pros nossos filhos e coisas que muitas vez não se torna possível, né verdade!? Enquanto a ser associada, eu sou associada, sim. Por que eu acho que a associação em si ela é uma família e nós fazemos parte dessa família. A associação eu sempre digo,a associação não é só você buscar projeto, não é só você se associar e dizer: eu vou encher meu bolso de dinheiro, não. A associação é amor, a associação é companheirismo, né verdade!? A associação é conhecimento, então nós temos que ter conhecimento. A associação ela é uma família, e essa família é pra se ajudar. Não só pra correr atrás de projeto de governo, mas em si, a gente aprender a se ajudar. Então eu acho que a associação é uma coisa muito, muito importante na vida do ser humano. E quem não é sócio não sabe o que é ser amigo, ele não sabe o que é ser irmão, o que é ser companheiro em muitas vezes, por que, o que é ser companheiro? É quando você tem alguém e você precisa de alguém, você precisa ajudar esse alguém, e você precisa ser ajudado por esse alguém. Então, isso é companheirismo, isso é cumplicidade, então, quem não é sócio, não sabe o que quer ser cúmplice um do outro. Eu estou falando cumplicidade em bondade, em amor, né! Não é cumplicidade em maldade.

Ser quilombola eu acho uma coisa muito importante, porque ser quilombola principalmente você assume quem você é. Certo!? Porque inxiste pessoas que ele não sabe se assumir o que ele é na verdade. Ele é negro e quer ser branco, ele não aceita o fato dele ser negro. É, muitas vezes as pessoas olham pra mim e diz assim: você é branca. Eu digo: Eu não sou branca, eu sou gaza por que eu sou filha de uma negra. A minha mãe era negra, pense numa negra, negra era minha mãe. E o meu pai era uma caboclo. Então eu sou uma mistura de negro com caboclo, então eu não sou branca, eu sou gaza, e eu assumo, eu sou quilombola, eu sou negra, né. Porque eu costumo dizer que antigamente, o escravo nascido do escravo, o branco nascido do escravo não era branco, ele era escravo, então eu sou. Então eu me assumo dessa maneira,eu sou negra. Então ser quilombola é assumir quem você é. É reconhecer a sua realidade, é reconhecer a sua origem. Então eu acho muito importante esse fato de nós sermos reconhecidos como quilombolas e eu aceito do fundo do coração, eu aceito esse título na minha vida. Eu sou quilombola e assumo isso.

Ele deveria reconhecer a sua origem, né! E reconhecer a sua nação, o seu nascimento. Da onde ele veio, né? De que origem ele veio? De quem ele é filho? Reconhecer essa realidade da vida dele. E não dizer, ah! Eu sou, eu não sou negro não, eu sou assim, eu sou clarinho. Não existe isso. Ou ele é branco na realidade ou ele é negro. Então eu assumo isso, eu sou negra.

 

Maria Luiza da Conceição Souza, 56 anos – Parteira da comunidade

Entrevista realizada dia: 20.11.2019

Aí sempre eu, as vezes tava em casa, mandava me chamar, eu ia né, fazer o parto. Um não precisava dar chá, não precisava nada. Mas tinha outros que a gente fazia um chazinho de folha, bom. Nascia, a gente fazia remédio se despachava a pracenta, a gente, eu cortava um imbigo, dava banho, botava La na beira da cama (risos). E a temperada a gente fazia de folha de osta, salsa, água da levante, puejo, e colocava outras coisas, cebola, alho, essas coisas dentro pra ficar mais saborosa. Graças a Deus os partos que eu fiz nunca me deu trabalho, graças a Deus. Eu sempre agradeço a Deus por isso. Nunca precisou, a não ser essa que eu to falando que quando u cheguei ela já tinha ganhado, aí quando eu cheguei, comecei a fazer remédio pra ela se despachar, ela desmaiou e a gente levou pra rua. Mas as outras nunca me deu trabalho. Peguei menino de cunhada, de filha, de neta, já pequei e dos conhecidos, sempre me ocupava e eu ia fazer o parto. Fiz base de uns 200 partos por aí, mas depois que sempre era mais difícil aqui na roça. Mas depois que, Deus abençoou que teve esses hospitais por aí, médicos, quando dava a dor eu dizia: leva pra rua, aí era isso, só isso mesmo.

Bom, eu penso que sim. Porque até hoje eu nunca escutasse que alguém falou mal de mim.

As minhas parteira também, eu tive 15 filhos, tudo na roça com as parteiras. Aqui na comunidade mesmo. Só a última que foi Cesário, mas eu tive 14 tudo na mão das parteira. Só quando completou fui pro hospital, aí foi Cesário o parto.

A senhora acredita que esse dom foi dos negros que foram escravizados?

Naquele tempo tudo era mais difícil, não era como hoje. Eu acredito sim, é.

Tá na faixa de uns 5 anos a última que eu peguei. Assim né, se ser uma coisa ligeira, se ser uma coisa ligeira, eu tano aí em casa e mandano me chamar eu vou, agora pra eu mesmo pegar esse encargo que nem eu fazia, não quero mais não. Por que as coisas hoje tá difíci, tá tudo difíci.

 

José Conceição, 52 anos – Vice presidente da associação

Entrevista realizada: 19.12.2020

Ser quilombola, porque assim, enquanto pessoas que a gente foi criado chegou até anos o conhecimento, algumas pessoas não aderiu bem a proposta, mas eu, eu fui uma das pessoas que mais aderi essa situação. Até por que na época eu era presidente, estava iniciando um governo como presidente da associação e eu levei isso a sério. Fui correr atrás de conhecimento pra que a gente pudesse tá recebendo a proposta bem. Fui procurar conhecimento e levei muito a sério essa situação e comecei já a correr atrás da documentação, de solicitação de reconhecimento de comunidade quilombola, fui direto na Fundação Palmares. Foi na época que eu era presidente, eu fui procurar os órgãos competentes para fazer isso. Na pessoa do INCRA que foi quem tanto nos ajudou nesse demanda até chegar na Fundação Palmares. Não foi uma coisa assim, que a gente correu direto na Fundação Palmares, mas a gente buscando o apoio do INCRA que teve aqui fazendo palestra, fazendo nós entender na realidade o que era ser quilombola. Que a gente não tinha esse conhecimento. Mas através do INCRA, o superintendente do INCRA, que foi uma pessoa muito boa na época, que tanto nos ajudou e junto do presidente do INCRA com outros funcionários. Teve nos orientando, como fazer veio aqui, fez palestras, passou filmes mostrando qual era a realidade de outras comunidades quilombolas que também era a nossa realidade e que nós não sabia isso.E a gente chegou a esse consenso através do INCRA. E com respeito a projeto, a política pública, tudo aqui que hoje está acontecendo na nossa comunidade, são lutas nossa. Não é porque o governo está mandando de lá pra cá por que somos bonzinhos, não.

É por que nós somos lutadores e vivemos cobrandos essas políticas. Eu tive lá com o professor Diego na universidade, e eu citei na minha fala, citando sobre isso. Sobre essa questão da gente dizer: ouvi dizer que nós temos direito, e na realidade, não vê chegar até a gente. Se é um direito que temos, mas não é executado esse direito, mas a gente falando sobre vagas nas universidades, a gente falando sobre vários projetos, que a gente só ouve dizer que na realidade nós não alcançamos esse projeto, essa política pública. É uma política pública, é. Mas pra gente ainda permanece parecendo uma política privada por que gente não chega da forma que deveria chegar até a gente. Então, são lutas nossas. O que acontece de escolas, de PAA, de essas outra que tá saindo agora, de Bahia produtiva, tudo é uma luta nossa e acreditando, por que não adianta, dizer assim, eu to acreditando, por que não adianta dizer assim, eu to lutando e não to acreditando que isso vai acontecer. Eu credito muito na política pública mas da forma que a gente faz, da forma da gente tá correndo atrás para que isso aconteça.

[...] Não adianta dizer que tem se a gente não correr atrás pra conquistar.

CEFI Quilombola, que é o cadastro de Ambientação Rural, nós estamos com essa pendência. É uma política pública. Existe, é uma pendência da nossa parte por não tá cobrando. Esses dias teve uma reunião em Valença, se eu não me engano, pra discutir sobre o CEFI, e não foi pessoas da nossa comunidade. Então isso é uma coisa que as vezes nos entristece, por que não tá havendo um esforço assim, da nossa parte. Por que tem que ter, por que as coisas quando acontece não é só vim de lá pra cá de mão beijada. Não. A gente tem que tá correndo atrás. Você, vê, sabe da questão da educação quilombola, currículo, né. Que tá sendo discutido no nosso Município, está sendo discutido na nossa comunidade. Mas a gente vê outras comunidades de braços cruzados. Enquanto, tava , eu, se falando no grupo de whatsapp, e dizendo, pessoal, quilombola a gente tem que reunir o povo do nosso território litoral sul, por que não é que as vezes diz assim, não, Itacaré pode tá avançado ou Maraú tá mais avançado. Não! Está na mesma situação e precisamos ter pessoas compromissadas com isso. Por que as coisas não acontecem por um acaso, acontece pela prova dos nossos esforços.

Vivia dizendo que nós somos descentes de escravos, somos pessoas que, somos descentes de pessoas que tanto sofreram na mão dos grandes, ou que se achavam ser os maiores, e que hoje na realidade somos descendentes desse povo, somos remanescentes deles. Somos um povo que vieram daquela nação que tanto sofreu, a nação negra. Que na realidade os escravos, eles só panhavam pra ser escravos, pessoas negras. Que eram, sempre foram os mais sofridos no mundo, não dizer só no Brasil, mas no mundo inteiro,é quem mais sofre. Nós somos descendentes daquele povo sofredor que são o povo negro.

Entre todas as necessidades de políticas públicas na nossa comunidade, entre todas, eu hoje colocaria, como prioridade, uma unidade básica de saúde da família, por que eles, dizem que por lei hoje só pode ter aonde tem uma comunidade acima de 2.500 (duas mil e quinhentas) famílias pra poder ser instalada uma unidade básica de saúde, mas pela necessidade na nossa comunidade, pra mim, seria uma prioridade essa unidade de saúde. Por que a gente temos dificuldade de transporte, dificuldade de chegada de um médico até aqui. Então, com essa segurança de uma unidade de saúde aqui, eu acho que seria mais viável pra gente pra poder viabilizar melhor.

 

Genário Conceição da Silva, 53 anos – Pastor da Comunidade

Entrevista realizada dia: 20.11.2019

A associação ela é importante no que diz trazer os benéficos pra comunidade e depois, é uma forma muito importante de unir os moradores da comunidade, é, pra decidir, ver as necessidades da comunidade e tentar conseguir juntos formas de resolver. Talvez não conseguimos resolver tudo, mas ameniza as dificuldades da comunidade. Essa é minha visão da associação.

E depois concernente, aos negros, o importante de ser quilombola é a nossa orige, é a nossa pele, a gente tem que sempre defender a nossa orige, e isso pra mim, eu ser filho de um negro da comunidade e nasci e me criei na comunidade, é isso é muito importante defender a nossa orige. Pra mim é muito importante defender nossa orige.

E concernente as religiões afro-descentente justamente temos que respeitar o direito de cada um. Temos a lei que dá o direito a cada um ter o direito de escolha de religião, então a gente tem que respeitar o direito dele, apesar de eu ser evangélico, mas sempre respeitei e vou continuar respeitando o direito de cada um, o seu direito de escolha de religião. Eu sempre respeitei e vou continuar, mesmo sendo evangélico, pastor vou continuar respeitando porque é o direito de cada um.

 

Reginaldo Conceição Nascimento, 44 anos – Presidente da Associação

Entrevista realizada: 19.12.2020

A associação pra comunidade nem dizer só pra mim, pra comunidade é uma coisa muito importante, é uma coisa que a gente considera que caiu do céu. Caiu do céu pra gente pelo motivo que a gente vivia nessa comunidade, né, comunidade de quilombo, desprezado dos políticos, do poder público, e através dessa associação, a gente conseguiu se achar, se encontrar no meio deles, e chegando aqui na comunidade que a gente não deixamos de esquecer de falar de Laudelino Bernardo Sena, que vindo li de Ipiaú, quando ele chegou aqui na região maios ou menos no ano de 1998 a 2000, ele veio falando que ele veio de uma comunidade ali de Ipiaú, que lá eles tinha uma associação e que através da associação eles conseguiram coisas muito boa pra aquela comunidade. Só que ele disse que não sabia como lidar com essa associação. Mas ele sabia que tinha como ir que a gente se manifestasse que a gente ia conseguir criar a associação dentro da comunidade e que a gente ia conseguir os objetivos pra comunidade.

Então realmente a gente corremos atrás disso. A gente conseguiu através da CEPLAC, a gente peguemos pessoas na CEPLAC, no assentamento que já tinha aqui em Maraú que é a Santa Maria, a gente peguemos pessoas nessa CEPLAC, e nesse assentamento, nesses dois órgãos e lutamos e conseguimos nossa associação. Que em primeiro lugar foi a associação de Produtores da região do Empata Viagem, e com essa associação a gente veio conseguimos trazer pra comunidade projetos. Comecemos trazer projetos para a comunidade, foi aonde logo 22 pessoas foram beneficiadas no Projeto Café e Coco. No qual meu pai aqui pegou o financiamento pra plantar 4 (quatro) hectares . Duas de café e duas de coco. Que a região estava precária mesmo naquele época e graças a Deus através daquele projeto a gente já conseguimos levantando a comunidade. Aí a gente fomos lutando, lutando. Aí depois conseguimos outros projetos como Crédito Amigo, e tal pra comunidade, que foi, é do Banco do Nordeste também e a comunidade graças a Deus foi levantando, e também com um conchavo com o poder público, então já foi melhorando. Aí, através disso aí, veio um agente de desenvolvimento do Banco do Nordeste por nome Nivaldo, que foram pessoas que ajudaram a gente que a gente não podemos esquecer e trabalhar com a gente e através do Bando do Nordeste que hoje a tem Moura hoje cobrindo essa área. E a gente viemos através de Nivaldo, ele chegou até a gente e falou pra gente que ele descobriu do IBGE, que até esse momento, foi em 2004 por aí, a gente não sabia nada assim de quilombo, a gente era, uma coisa que a gente não sabia, foi que nem Laudelino falou, ficava escondido pela gente não ter acesso nenhum, associação ou algo assim, a gente não tinha conhecimento daquilo que era da gente pra gente buscar aquilo que é nosso. Aí veio senhor Nivaldo e falou pra gente que através do IBGE ele descobriu que a comunidade da gente era comunidade de quilombo, remanescente de quilombo. [...] Aí a gente veio e mudamos os documentos da associação, mas pra mudar os documentos da associação não era só assim, dizer: ah, eu sou comunidade de quilombo e eu preciso do certificado da fundação Palmares pra poder dizer que eu sou quilombola. Aí a gente indo em Salvador na Fundação Palmares eles disse que pra poder dar esse certificado a gente, eles tinham que vir na comunidade pra ver na verdade se a comunidade era quilombola, que pra ser tinha que ter a marca, a marca foi a marca que meu pai falou da velha Honóra, o Didi,tudo aqui dentro da comunidade que foram os escravos se refugiaram. Aqui tinha as represas que foi feita na época dos escravos, casa de farinha, chão da casa de farinha e tal. Aí a gente conseguimos provar pra eles que sim, aqui era aqui que a gente estava correndo atrás. Aí a Fundação Cultural Palmares deu a gente o certificado como comunidade quilombola, aí graças a Deus hoje a gente somos certificados. O certificado está na mãe da secretária [...]

A associação foi não, é um fator muito forte pra nossa comunidade e tudo que isso aí que eu acabei de te dizer a gente conseguiu através da associação. Aí veio também depois desse certificado, o governo do PT também o governo Lula, aí veio mais Política Pública pra, pras comunidades pro nosso país. E a gente através da associação a gente conseguimos também mais Política Pública pra comunidade. Apesar desse projeto do coco e café o qual eu já falei a gente conseguimos aqui também o PAA, no período de 6 (seis) anos a gente desfrutando desse projeto do governo a gente conseguimos quase 3 (três) milhões de reais para dentro da comunidade. Então a comunidade cresceu bastante, em cima disso aí. Por que nem só ajudava aquelas pessoas que estavam vendendo o seu produto, como aqui todo mundo perdia por causa das políticas públicas que não tinha. Não tinha uma associação, não tinha nada pra poder tá correndo atrás das políticas públicas, aí a gente perdia tudo isso aí. Levamos 2 (duas), 3 (três) décadas perdendo isso aí, perdendo nossas produções porque a gente não tinha pra quem vender onde veio o PAA, onde a gente conseguimos vender uma parte da nossa produção, trazendo pra dentro da comunidade, nesse período de 6 (seis) anos , praticamente três milhões de reais pra dentro da comunidade.Então assim, a comunidade foi crescendo, crescendo através disso aí, então como Irênio falou, na minha época já existia a Escola Vitório Magalhães que foi um projeto dele, que ainda em tempo de novo ele correu atrás e trouxe pra dentro da comunidade. Aí a gente viemos através da associação a gente conseguimos o Ginásio que é do Pré ao 9º (nono) ano, dentro da comunidade, o qual também gerou emprego, gera renda. Se gera emprego, gera renda. Então, através da associação esse guerreiro velho, Irênio Monteiro, a gente vem conseguindo essas políticas. Conseguimos fazer a sede da associação. Conseguimos também agora, já chegou é, até na associação, moto, computador, várias coisas que a gente vem trazendo pra dentro da associação. Conseguimos também, uma mini indústria, mini fábrica de polpa, pra gente tá processando as frutas, os negócios que a gente tempos aqui, que a gente perde, a gente não vamos mais a partir daí, com fé em Deus não vamos perder mais, que a gente tamo conseguindo através das políticas públicas. Né, o campo que a gente tá conseguindo também. Que já tinha mais através do ginásio no momento a gente preferiu o ginásio por que o campo a qualquer momento poderia vim novamente. E se a gente perde o ginásio ia ficar ruim pra poder vim. Então, a comunidade é tão esperta, não falo Regi presidente que tá na presidência, mas eu falo comunidade por que a gente senta pra poder dialogar pra ver por onde é melhor como é que a gente deve fazer pra gente tá conseguindo as políticas públicas para a comunidade. Então, a gente conseguimos a Escola aí, ficamos sem o campo, mas o poder público já está fazendo o campo da gente. Aí a gente já tem ginásio, pode-se dizer que já tem campo. A gente tem o mini posto também que vai ser inaugurado recente, vai ser inaugurado também. Tudo através da associação a gente corre atrás, a gente cobra e a gente vem conseguindo. Agora foi o que a gente conseguiu. Conseguimos também energia, hoje nós temos 80% de energia em uma comunidade de 300 (trezentas) famílias, 80% da energia que veio por meio da associação, então o poder público se manifesta e tal, pelas cobranças da gente e consegue e traz e graças a Deus a gente consegue. Só que hoje a gente não tem o suficiente que a gente queremos para o futuro. Por que [...] e para as crianças a gente já tem algo para o futuro das crianças? Não. Tem agora para o presente porque a gente já tem uma escola e tudo. Mas pro futuro a gente necessita de creche, a gente necessita de área de lazer, a gente necessita de várias coisas que a gente precisa na comunidade que isso é pro futuro e a gente vamos correr atrás. A comunidade vai correr atrás juntamente com a associação e a gente pretende conseguir isso aí, pra comunidade.

 

Antônia Conceição Oliveira, 40 anos – Secretária da Associação.

Entrevista realizada dia: 20.11.2019

Eu sempre vivi aqui, nasci, me criei aqui, e to aqui até hoje. Gosto muito de viver aqui não tenho de que reclamar. Somos quilombolas, trabalho na zona rural mesmo, trabalho pra mim mesmo. Eu planto cacau, planto mandioca, faço farinha, faço beiju, faço tapioca. Do aipim faz o bolo, faz várias coisas de aipim, só que a gente faz mesmo pra gente comer, por que a gente não faz pra vender não, porque a gente não tem coisa assim pra gente vender, mas a gente gostaria de fazer pra gente vender porque era um sustente, era o próprio salário que a gente ia fazer pra gente mesmo pra ajudar os nossos filhos na escola, ter como eles fazer uma faculdade, alguma coisa sendo que a gente ia tirar do da gente mesmo. (Antônia Conceição, 40 anos)

Na associação a gente fez um curso em Ubatã e foi muito importante. Porque a gente aprendeu muitas coisas que se faz com aipim, se faz com mandioca, banana. A gente aprendeu a fazer muita coisa, cocada, doce, várias coisas a gente aprender, suco, até suco de aipim a gente aprendeu, sorvete, outros, outros, outros. Outros tipos de bolo que a gente não sabia, a gente aprendeu. Então, só tá aqui o que a gente aprendeu, mas a gente não desenvolveu pra fazer pra vender. A gente faz pra gente mesmo. (Antônia Conceição, 40 anos)

 

Maria Aparecida Souza Barbosa (Lia), 31 ANOS – Diretora da Escola

Entrevista realizada: 19.12.2020


A importância da escola na nossa comunidade eu diria que até hoje, eu tenho 32 anos, nasci e me criei aqui nessa comunidade e é também onde eu trabalho, já tem 12 anos que eu trabalho, eu diria que é a maior conquista que a comunidade já teve até hoje, é a Escola. Porque, você sabe que um povo sem educação é um povo fracassado e a nossa comunidade, com essa conquista que é a escola abriu-se várias portas. Eu não falo só da questão do trabalho, do emprego para as pessoas da comunidade que trabalha hoje na escola em termo de renda, mas eu falo em termo de conhecimento para os nossos alunos, por que se, a minha história já é diferente. Eu se eu quis fazer o ensino fundamental II quando eu sair do 5º ano, eu tive que ir pra Ibiaçú, andar em cima de caminhão, que é o pau de arara, e durante quatro anos, fui pra Ibiaçú fazer, e é, hoje as nossas crianças, os nossos jovens da comunidade já não têm essa passagem de ta saindo da comunidade, a comunidade tem como acolher esses jovens e só sai realmente pra fazer o ensino médio por que só faz no Colégio Estadual , não tem outro jeito. Mas eu tenho esperança também de um dia a gente conseguir, atingir também e ter, ao menos um anexo do Colégio Estadual pra poder também, esses jovens ficarem na comunidade. Então assim é uma entidade essencial na nossa comunidade hoje, por que atende, hoje a gente atende 295 alunos, a maioria desses alunos são todos da comunidade, a maioria, a não ser alguns do Aralzinho que a gente traz, mas a maioria, a maior força desses alunos são os nossos aqui. Então assim, é uma coisa que abrange, né!? E que ajuda. E esses meninos estudam dentro da comunidade, e fortalece também a identidade desses meninos, por que eles têm a chance de estudar a história da própria comunidade, ver como era, quais foram os avanços que a gente conseguiu de lá pra cá e a responsabilidade, né!? De nós como educadores também temos com esses alunos. E as possibilidades também que essa Escola veio e trouxe pra nós, por que assim, eu só consegui terminar minha faculdade por que eu tive uma oportunidade de trabalhar , por que né, pagar todos os meus estudos que eu tive até hoje, eu consegui trabalhando nessa escola, me capacitando. E todos os conhecimentos que eu adquiri, eu hoje estou retribuindo na minha comunidade. Hoje, eu como gestora da escola eu procuro dar o melhor que eu posso pra esses alunos por que eu sei a realidade desses alunos, conheço essa realidade e o que eu posso fazer para transformar essa realidade, eu venho fazendo. E a importância dessa Escola na comunidade na verdade eu não tenho nem palavras pra descrever a importância dessa escola na comunidade.



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